Após
o anúncio de corte de 20% do quadro profissional na sede norte-americana, era
de se esperar que a NII Holdings, controladora da Nextel Brasil, apresentasse
um relatório financeiro trimestral com resultados ruins. De fato, após o
anúncio do balanço nesta quarta-feira, 7, as ações da empresa chegaram a cair
12,5% no pregão eletrônico da Nasdaq pela manhã, quando atingiu o valor mais
baixo de US$ 6,08, embora tenha se recuperado ao longo do dia. Grande parte do
desempenho abaixo do esperado se deu por conta das dificuldades da operadora no
mercado brasileiro, com perda na base de assinantes (churn), diminuição da ARPU
e dificuldades na implementação da prometida rede 3G.
Durante
a conferência para analistas de mercado, a Nextel brasileira ficou como foco
central. "Estou desapontado com os resultados. A performance não é
aceitável e precisamos melhorar. Tomo toda a responsabilidade por isso",
declarou o CEO da NII Holdings, Steve Dussek, alegando que o "desempenho
no Brasil foi fraco ainda por reflexos das ações do ano passado", quando
diminuiu preços para conseguir competir com a telefonia móvel 2G e 3G e acabou
atraindo consumidores "difíceis de reter e que não eram lucrativos".
Para
reverter isso, a companhia está disposta a sacrificar sua base brasileira de
assinantes, utilizando uma abordagem mais agressiva em busca de usuários com
maior retorno financeiro. "Vamos eliminar todos os esforços para manter
esses clientes [que causam prejuízo]. Vai haver um churn muito maior, mas vamos
desativar mais de 350 mil usuários para podermos voltar a ser positivos no
começo de 2013", explicou Dussek logo no início da conferência. "No
ano passado, as condições competitivas e de mercado influenciaram
[negativamente], com dispositivos 3G ficando mais acessíveis e populares, o que
nos colocou em desvantagem", diz. Outro ponto levantado pela empresa foi a
flutuação do dólar, que gerou perda de 8% na receita brasileira em comparação
com 2011.
O
executivo reconhece que, além da estratégia errada para atender mais
consumidores, a instalação da própria rede 3G no País demonstrou-se mais
problemática que o esperado. Ele diz que isso é importante para o sucesso no
mercado brasileiro em longo prazo, mas que há desafios na hora de integrar as
duas tecnologias existentes para servir o usuário com o rádio (iDEN) e a
conexão de dados via HSPA. "Requer muito mais esforço na integração de sites
– é por isso que temos alguns desafios de execução", explica o CFO da NII
Holdings, Juan Figuereo. Segundo ele, com o tempo haverá uma oferta de serviços
de voz também pelo 3G.
A
rede de terceira geração, promete a empresa, deverá ser lançada ainda neste ano
no Brasil ao menos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além disso, a controladora
da Nextel espera que a Anatel aprove "em seis a nove meses" a compra
da Unicel, antiga aeiou, que não opera mais no País e ainda conta com uma
dívida de R$ 100 milhões. Ainda assim, o interesse é no espectro de 1,8 GHz,
que a NII afirma que já possui no Rio de Janeiro.
Medidas
Com
a recente recolação de Cláudio Hidalgo como COO (chief operating officer) da
Nextel no Brasil (ele era presidente da empresa no Chile) e todos os esforços
para aumentar o ARPU no País, a NII espera um quarto trimestre ainda mais
difícil, mas com sinais de recuperação já no início de 2013. As medidas também
incluem a oferta de mais smartphones, expandindo o portfólio da empresa com
foco no setor corporativo. "Estamos bem empolgados com o futuro, apesar de
tudo", alega Steve Dussek. Ele diz que as novas regras de bill & keep
ditadas pelo Plano Geral de Metas e Competição (PGMC) para permitir tráfego
off-net vão também facilitar a estratégia da Nextel, já que ela é considerada
pela Anatel como empresa não detentora de Poder de Mercado Significativo (PMS).
"Isso vai promover ao consumidor maior poder de escolha. Não vai haver um
impacto grande agora, mas no futuro vai nos dar mais flexibilidade com planos e
serviços competitivos", explica.
A
concorrência direta também não parece incomodar a NII. Ao ser perguntado sobre
o recente crescimento de 70% no serviço de push-to-talk (baseado em 3G) da
Telefônica/Vivo, divulgado no balanço da empresa nesta terça-feira, Dussek fez
pouco caso. "Não temos visto o que fizeram, então não vimos nenhum impacto
em nossa base", garantiu.
Se
tudo ocorrer conforme o esperado, a NII Holdings espera economizar de US$ 10
milhões a US$ 15 milhões somente com a redução de funcionários na sede
norte-americana. Com todas as medidas, a estratégia da empresa é uma só: focar
na América Latina para recuperar o tempo perdido, otimizando recursos e
diminuindo despesas. A questão agora é saber se o agressivo corte na base de
usuários no Brasil não vai trazer também problemas futuros com a imagem da
Nextel – essa avaliação ficará para o próximo trimestre. "Achamos que
vamos crescer no market share brasileiro no começo de 2013, sentimos-nos
confiantes em tomar essas ações", garante o CEO da NII.
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